sábado, junho 10, 2006

Sunset

Um sol intenso batia naquele dia sobre o cemitério, fazendo cruzes e lápides escaldar e o seu corpo suar...Deus, se é que Ele existia mesmo, ironizava a sua existência. Ele percorreu o solo mortal até uma campa, fresca, que ainda nada mais continha que uma simples lápide com um nome, duas datas e uma fotografia inscritas.

Ele sentou-se ao lado dela...fechou os olhos por momentos...abriu-os e deparou-se com uma pequena formiga que se passeava apressada sobre o nome daquela que ele visitava. Irou-se! Apontou-lhe um indicador pronto a esmagar...e então lembrou-se...lembrou-se de como ela, que agora ali jazia por baixo, nunca matava qualquer criatura..."A minha vida não vale mais que a dela", justificava ela...e ele troçava...mas agora entendia, ironicamente entendia...

Descentrou do pequeno insecto a sua atenção e olhou fixamente para as inscrições da lápide, como que a ganhar coragem..."Madalena..."...Madalena...não conseguiu ler mais nada...os olhos encheram-se de lágrimas, insistentes, teimosas, como uma fúria do seu coração contra a sua razão...Limpou-as com toda a força que conseguiu...não chorara quanto ela morrera, não chorara no seu funeral...fazia-o agora em paz, sem que ninguém questionasse o seu orgulho.

Olhou-a nos olhos, eternamente capturados por uma qualquer máquina...nunca antes a olhara nos olhos sem ser para a negar...e agora...daria tudo para que os pudesse ver...

Incapaz de se conter mais agarrou aquela última recordação que restava dela e soluçou com força "Madalena...Madalena perdoa-me..."
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E ele não soube se foi imaginação, se foi Deus, os anjos ou ela...mas o céu enlutou-se com ele...e choveu.

2 Comments:

Blogger fairy dust said...

Para que aqui conste...devo a passagem de Deus ironizar a vida ao meu irmãozinho João!!!

10/6/06 12:50 da manhã  
Blogger Fátima said...

imagético, poderoso, fluido! e aquele instante de uniao do espirito com a natureza! muito bom!!!

11/6/06 4:00 da manhã  

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