Quantas vezes nós, "adultos", nos questionamos sobre o amor, o casamento, a vida...e nunca damos atenção àquilo que realmente se passa? Aqui está a perpectiva de alguém, muito mais sábio que eu, sobre o assunto:
Num solarengo Sábado de manhã, o pequeno Manuel foi arrancado da cama, lavado, esfregado, vestido e penteado até mais não poder. Nunca a sua querida mãe o vestira de semelhante forma num fim-de-semana: a camia apertada com um lacinho azul ecuro que o sofocava, mas que lhe "ficava tão bem", os calções longos e pesados, que em vez de o refrescarem he faziam ruborescer as pernas normalmente tão brancas, um par de sapatos brilhantes e rígido que não o deixavam correr...
Depois de aguentar calado toda aquela tortura, Mauel pergutou à mãe porque o fizera, ao que ela respondeu "É o casamento da tia Lila e do tio Pedro".
De facto, lá foram eles parar a uma igreja algures, onde a mãe sentou o Manuel num banco duro e frio de madeira e o mandou guardar silêncio. Algum tempo depois a música soou e entrou a noiva, de longo vestido branco e véu rendado, arrastando uma menininha tão desconfortável entre os laçarotes como o pequeno Manuel, mas que se manifestava em lágrimas e gritos para o altar. Perante isto, incumbiu-se o Manuel de levar as alianças...e ele foi, com o rosto sério e concentrado, fazendo-lhe uma suave ruga na testa, fitando aquelas duas argolas douradas cujo significado desconhecia. Missão cumprida, retornou para perto da mãe, que lhe deu um emocionado beijo como prémio. Contudo, permanecia algo nesta estranha cerimónia que Manuel desconhecia, e na inocência dos seus cinco anos perguntou:
"Porque está a tia Lila vestida de fantasma?"